Trecho traduzido de Martin Page (Inédito)
dezembro 11, 2013 § 1 comentário
Aproximo-me do espelho para me barbear; meu rosto entra num quadro em que é refletido. Pego meu gel de barbear hipoalérgico-hidratante frescor menta, espalho um pouco nas bochechas e naquele pequeno espaço onde passa a veia jugular por meu pescoço. Minha gilete tem três lâminas, fico feliz, assim rasgo sem dificuldade a grossa linha roxa.
O sangue surge a principio lentamente. Ele hesita a tomar para si esta imensa abertura que lhe é oferecida no lugar do confinamento monótono e rotineiro da veia humana. Este novo mundo, com seus tesouros e seus mistérios que ele jamais possuiu em seu claustro, o assusta e o atrai. Ele não imaginava que era tão pequeno; o sangue é vaidoso, jamais lhe veio à ideia de que não poderia jamais preencher a veia na qual o diâmetro é o universo, pois ele jamais esteve senão em um pequeno corpo de homem.
Entretanto, por que o sangue possui a loucura dos grandes, ele se lança imprudentemente da ferida do meu pescoço sobre a louça branca suja de pelos. Isto é tudo que terá como paisagem. Em seguida, irá descer pelo sifão e se misturar com águas sujas, chegar aos esgotos para terminar em taças de coquetéis de ratos gigantes.
Perco consciência, minha cabeça estala no chão do banheiro.
[…] Une parfaite journée parfaite. […]