Tanto faz, tanto fez

maio 24, 2011 § 3 Comentários

Foi revigorante ler TANTO FAZ assim como quem não quer nada. O que chamou minha atenção para o livro foi o projeto gráfico – e o precinho camarada – da companhia das letras. Adorei tudo, as cores, o tamanho, o novo selo chamado Má Companhia; então apostei no livro que trazia referências a Henry Miller na contracapa – sempre uma boa isca para mim.

Uau! que refresco! Escrita descompromissada, frases de efeito jogadas na maior cara de pau – todas capazes de levantar um sorriso. Flying saucers in the sky… quem é esse cara? Só depois eu fui ver que o Reinaldo Moraes tinha escrito esse livro em 1980 e pouco – e eu sequer tinha associado o nome dele ao Pornopopéia que ainda decorava a livraria com destaque – seu ultimo livro lançado em 2009!

Mas pensando bem, até que faz sentido; é raríssimo encontrar hoje em dia um autor que escreve sem projetar uma adaptação cinematográfica, sem abandonar personagens em contos que se parecem com livros inacabados, sem se preocupar com um grande projeto literário, sem deixar em aberto dezenas de buracos na trama para o vol.2 e 3 da série – afinal hoje parece que o sucesso de uma obra é diretamente proporcional ao numero de sequencias sem Final elas irão ter. Enfim, um autor que simplesmente escreve um livro. O Daniel Galera é um cara que gostei muito de ler, mas ele comete ou uma coisa ou outra em seus 3 livros (meu favorito é o Cordilheira)

Mas voltando ao Reinaldo, a naturalidade com que ele escreve é digna de nota; sem itálicos ou “aspas” chama as garotas de beibes, enfia letras de Caetano, Chico, trata seus escritores favoritos como se fossem amigos pessoais, “Joyce topou com a futura mulher numa rua de Dublin. Se apaixonaram e fugiram juntos, não sei bem de quê nem pra onde”. Outras partes são mais engraçadas hoje do que trinta anos atrás, tal quando fala de um tal “Zé Dirceu, da UNE, que comia todas as menininhas enquanto a ditadura não caía”. Utiliza também do Inglês e do francês como se tudo fosse a mesma língua, e não tem uma notinha de rodapé o livro inteiro. “-Me recuso a dar pro carinha, de manhã, se ele já acordar de pau ready-made. Tesão de mijo não vale. Tem que começar do zero” Fico até pensando se o leitor que não manja nada dessas línguas fica meio perdido com expressões como essa ou, ainda falando do pau, um pau “demi-bombé”, mas o escritor – e seus editores – fizeram a melhor opção de não nivelar por baixo. Muitas dessas passagens eu marquei para mostrar aos colegas, e convenci um monte de gente (tá, duas ou três pessoas) a comprar o livro também.

A estrutura do romance se divide em capítulos curtos, algum com apenas uma linha (!) sem que isso pareça machadianismo, são apenas frases soltas que o autor não encontrou lugar melhor para jogar. Exceto pelo ultimo capítulo, onde o autor entra em uma vertigem de 10 páginas dentro do avião que o traria de volta para casa e onde se resolvem muitas das linhas de ação e personagens que saltitaram pelo livro – e esta loucura termina com apenas uma palavra, dita pelo leitor; uau!


Essa edição ainda por cima é 2 em 1 e vem com o livro mais curto Abacaxi, que ainda não li… depois eu falo mais. Comprei também a nova edição do Invasor, pelo único motivo de fazer parte da mesma coleção Má Companhia, e também a edição de bolso do Pornopopéia – agora já possuo a obras completas do meu mais novo escritor favorito  =p

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§ 3 Respostas para Tanto faz, tanto fez

  • Gostei demais deste livro. Pornopopéia talvez seja a obra prima do Reinaldo Moraes, mas Tanto Faz & Abacaxi são dois exemplos de literatura escrota no melhor dos sentidos. Falta agora comprar o livro de contos “Umidade”, mas agora em setembro faço isto! ótimas dicas literárias no teu site, Leonardo!!!

    • opa! legal que você pousou aqui… quanto ao Pornopopéia, li depois deste e do abacaxi, mas não gostei de ambos. A pegada da cocaina & outras drogas é muito forte, acaba sendo o principal assunto do livro; quando não está falando disso o Reinaldo ainda mostra muito talendo na construção de frases e idéias. Sinto que o lance das drogas acaba sendo forçado, ou falta de algo melhor pra falar. No pornopopéia além disso, a tal história da surubramane se arrasta por muitas páginas e não acho que foi uma boa maneira de começar o livro. O que é uma pena, pois o Tanto Faz me deixou muito empolgado. Quem sabe seja melhor guardar pra uma fase menos careta.

  • Seane Melo disse:

    Estou super ansiosa pra ler esse livro, já sou fã do Reinaldo e encontrei o seu texto por acaso, mas acho que a sua fruição com Tanto faz foi semelhante ao que senti com Pornopopeia. Você tem skoob?

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